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2º fascículo da fantástica odisseia do Quim Zé Cabeçadas
Tolada em 3 dimensões.
Esta peripécia passa-se em pleno verão, num dia altamente soalheiro,, numa rua muito movimentada da vila de badoucos.
Como sucede com todas as ruas e passeios das nossas cidades, a decoração é sempre feita por mulheres e afins, o mesmo é dizer, homens com sensibilidade feminina, que renunciam à sua condição de machos, práticos, pragmáticos, objectivos, descomplexados e descomplicados.
Começo a pensar que há sempre uma parte de maricas nos homens que põem coisas nas artérias pedonais.
É que tal como a generalidade das mulheres, eles têm um pavor terrível a passeios amplos, largos, desimpedidos, livres de obstáculos. E vai daí, toca a colocar um vasinho, um poste que muitas vezes ao invés de estar na borda do passeio está meio metro para dentro, os famosos capa cegos que são o abono de família para os urologistas e consequentemente o desgosto para as parceiras, os pinos que nos obrigam a andar sempre de caneleiras, e outros adereços que com tanta raiva que o cego divertido lhes tem, nem se atreve a mencionar.
Se repararmos bem, em nossas casas as mulheres também são assim. Não podem ver um espaço vazio, que empestam a casa toda com jarras, vasos, móveis, camilhas, mesas de centro, eu sei lá, mil e uma coisas só mesmo para chatear e na pior das hipóteses, derrubar. E então quando esses artefactos são de vidro, o cego divertido fica nas nuvens, porque cada vez que esbarra contra eles, faz música para os seus ouvidos!
Concentremo-nos novamente no Quim Zé cabeçadas.
Como bom pedante que ele é, frequenta muito estas artérias afeminadas da vila de Badoucos. E num dia em que saiu com o propósito de comprar um gelado, quando já pressentia a proximidade da banquinha e numa altura em que já estava a salivar, distraiu-se, não fosse ele o típico atabalhoado, e acerta com a testa num desses postes, colocados num dia de franca inspiração de um qualquer arquitecto ou afins.
A cabeçada foi extremamente ruidosa, e criou moça, tanto física, como também psicológica.
É que como haviam vários transeuntes por ali, foi completamente impossível não ouvir o estrondo que por momentos quase que deu vida ao poste.
A primeira reacção do quim Zé Cabeçadas foi apalpar a sua testa a ver se estava ou não a sangrar. Felizmente, parece que foi só chapa! Ou melhor, desculpem, só inchaço!
No momento em que o quim Zé cabeçadas andou ligeiramente para traz para não estar digamos assim mesmo no local do crime, acerta com a nunca noutro poste.
Desta vez o estrondo não foi tão grande, mas por azar estavam ali ainda mais curiosos que despertados pela primeira tolada, quiseram ver se estava tudo bem com o ceguinho.
Um desses curiosos, imbuído de um fantástico espírito de comiseração, agarra no braço do quim Zé, e suplica-lhe.
Ó senhor, por favor venha comigo, eu levo-o a casa! Este passeio é uma vergonha, está cheio de tranqueiros, você ainda se vai matar aqui.
Porém, o quim Zé cabeçadas, estava já um pouco atordoado, mas como é óbvio não perdeu a ideia do gelado, e tentou libertar-se do braço do tal transi unte que o agarrava com uma força tal, que parecia um guarda a apanhar um ladrão em flagrante delito.
Deixe-me ir à minha vida dizia o quim!
Mas por azar dele, os transeuntes tomaram partido pelo bondoso, e num ápice o quim já tinha sem exagero 20 voluntários que o queriam levar a casa.
Enquanto todos conversavam apaixonadamente, e discutiam as vantagens de obrigar o quim Zé a ir para casa, este encontrava-se sob a apertadíssima vigilância de um dos candidatos.
A dada altura, ele apercebe-se que o transi unte que o estava a amarrar à imenso tempo, deixa de fazer pressão, e nesse momento ele liberta-se das suas amarras e começa a caminhar pelo meio da multidão.
Claro está que todos começaram a gritar dizendo que ele se ia magoar e que devia era ir para casa.
Num dos assombros de coragem que o Quim Zé cabeçadas de quando em vez consegue ter, faz ouvidos moucos e lá vai ele tentando alcançar o mais rapidamente possível a banca dos gelados.
Um dos transeuntes mais inconformados vai atrás do quim Zé, e este, ao ver que tinha alguém no seu encalço, flecte um pouco para a direita, não faz o movimento correcto com a bengala, e pumba! Mais uma tolada, desta vez com a parte lateral da cabeça, muito perto da orelha.
Bem! Só vos digo que foi o fim do mundo.
O quim Zé cabeçadas começa a sangrar como um porco, os transeuntes enfurecidos contra ele por desrespeitar a ordem do povo, o chão todo sujo, a senhora dos gelados chateadíssima porque no meio de toda essa confusão ninguém lá ia comprar nada, foi uma confusão de todo o tamanho, que só acalmou momentaneamente na altura em que finalmente chegaram os bombeiros com a intenção de transportarem o quim Zé cabeçadas para o hospital, e um polícia, que obviamente deu ordem de detenção ao ceguinho.
Esmurrar um poste ainda vá que não vá, se forem dois, desde que não tire muita tinta, tendo em conta que é um ceguinho, ainda se pode pensar em tolerar. Agora chafurdar a via pública com litros de sangue, desrespeitar as ordens de dezenas de transeuntes, vá lá ser casmurro lá fora!
Mas há sempre a outra face da moeda. E como sucede com uma patrulha normal, esta também era constituída por dois agentes da autoridade. E se um dos polícias já tinha dado ordem de detenção, havia um outro que tinha um amigo ceguinho, e começou a dizer que os transeuntes não tinham nada que chatear a cabeça ao quim Zé, porque ele é maior de idade, e tem todo o direito a passear na rua e comprar um gelado.
Está visto que a partir daqui a confusão foi total.
Dezenas de transeuntes a condenarem o quim Zé, os bombeiros à espera que ele se decidisse entrar para a ambulância, ele que gritava dizendo que não chamou ninguém, dois polícias divididos, um que queria prender o ceguinho, outro que dizia nem pensar.
O que aconteceu depois disto?
Não perca os próximos fascículos!
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