Nota de Boas Vindas.

Decidi criar este blog, porque gosto muito de brincar.
Brinco com tudo, e tudo serve para fazer uma boa piada, e dar uma boa gargalhada

Não pretendo de modo algum ferir susceptibilidades.
tenho a noção das dificuldades que um cego experimenta no seu dia a dia, até porque eu também sou cego congénito.

Mas a cegueira não pode representar o fim do mundo, e temos de ir há luta, agarrar o boi pelos cornos, e fazermo-nos à vida!

se não formos nós a brincar com a nossa condição de cegos, quem brincará?

Respeito todos aqueles que não gostam desta forma de encarar a cegueira.
Mas também peço que respeitem o nosso sentido de humor, e a forma descomplexada e sarcástica com que nós abordamos este tema.

Pela Internet, existem imensos espaços, onde a deficiência visual é abordada de uma forma séria e muito profissional

Por exemplo o Lerparaver Para mim o melhor site em língua portuguesa sobre deficiência visual.

Neste espaço, vamos contar as histórias caricatas que nos acontecem no dia a dia, as abordagens mirambolantes que nos fazem diariamente, em fim, vamos
brincar com a nossa condição de Cegos.

Se ainda não se sente à vontade, pedimos que saia deste blog, pois a linguagem e expressões que aqui vão ser usadas, podem ferir algumas susceptibilidades.

Para aqueles que tal como nós gostam de se divertir com o facto de serem cegos, espero que nos ajudem a construir este blog.

Este blog tem o alto patrocínio das seguintes firmas

Cerveja Braille.
Serveja Braille, a Serveja que lhe dá pontos!

Super-mercados verdade.
Super-mercados verdade, onde os preços, parecem mentira!
Super-mercados perdade, pague agora, leve mais tarde!
Supermercados verdade, até quem não vê acredita!

Entrevista ao Cego Divertido

Esta entrevista foi especialmente concedida para o blog do cego divertido.

São 10 perguntas, às quais o cego divertido responde com muita abertura, e humor quanto baste.

As respostas são precedidas da sigla Cd, que significa Cego Divertido.

1. Quem é o cego divertido?


CD: O Cego Divertido é um tipo que gosta de fazer humor e de brincar, mesmo com coisas sérias.

Dizem que tristezas não pagam dívidas. Eu acrescento. Para além de não pagarem dívidas, só nos trazem dúvidas!

Gosto ainda de fazer coisas, de estar activo, porque não basta só fazermos humor e divertirmo-nos com a vida, é preciso trabalhar, e ajudar a que na realidade a malta cega possa ter cada vez melhores condições de vida, e estar mais e melhor integrada social, profissional e culturalmente.

2. Porque é que na sua apresentação não revelou a sua verdadeira identidade?


Cd: Não acho que isso seja importante. Por outro lado temos ainda muitos preconceitos, e creio que muitas pessoas cegas ainda se chocam mais com a forma como eu abordo a cegueira do que os próprios normovisuais.

Muitos amigos meus já sabem quem é o autor do Blog Cegodivertido. Mas não preciso de andar aí com uma campainha com a minha fotografia pendurada, porque no fundo no fundo, os cegos não vêem as fotos!

Aqui uma boa alternativa, passaria por ao invés de usar uma campainha, trazer um papagaio atrás de mim. mas teria primeiro de o ensinar a dizer o meu nome, e o problema maior era dar-lhe comida, porque já para ganhar para mim me vejo lixado, quanto mais para manter o bichinho!

3. Já nasceu assim, cego e divertido?


Cd: Na verdade quando eu nasci, os faróis ainda alumiavam qualquer coisa. Ao fim de 3 anos de uso, fundiram de vez!

Quanto ao facto de ser divertido, regra geral sempre fui, excepto quando levava tareia por fazer asneiras.

4. Como era o cego divertido na escola?


Cd: Gostava muito de comer máquinas Braille. Quando tinha sono deitava-me com a cabeça em cima da máquina e gostava de roer o puxador dela. Não tinha o mesmo sabor de um chocolate mas era bom, pelo menos tinha muito ferro.

Também era conhecido pelo destruidor de máquinas. Lembro-me que na escola primária, quando não me apetecia escrever, encravava a folha. A dada altura as professoras até me arranjaram uma máquina de dactilografia vulgar para eu estar entretido.

Escusado será dizer que aí acabou-se a brincadeira. As máquinas de Braille nunca mais avariaram!

5. E na adolescência?


Cd: Na adolescência continuei a ser divertido, embora acho que fui ganhando mais juízo.

Uma das brincadeiras que mais gostava de fazer, era pegar na bengala dobrada e atirá-la para o ar. Parecia um boomerangs. às vezes lá partia um vidrito. O pior foi quando um professor que estava tranquilamente a dar aulas, levou com a bengala na cabeça.

Felizmente ele perdoou-me! Perdões à parte, lá tive de pagar o que parti.

Mas uma coisa que nunca fui. Nunca fui mal educado para nenhum professor nem nenhum funcionário.

Quando eles estavam por perto eu tentava portar-me bem, e nunca os afrontei. Não suporto faltas de educação. Na altura em que eu estudava, nós brincávamos tanto ou mais do que os adolescentes de agora, e não éramos mal criados. Hoje os putos provocam toda a gente. Ele é os professores, os funcionários, os próprios colegas, é um fartar vilanagem!

É isso que me desgosta nos adolescentes de hoje, e creiam que isso não é mesmo nada divertido.

6. Alguma vez se sentiu revoltado ou com vergonha de ser cego?


Cd: sinceramente com vergonha nunca. Revoltado, também acho que não. Claro que não fui cego por minha própria vontade, mas a vida ideal ninguém a tem. à muitos tipos sem deficiências que são muito mais infelizes do que eu, não tenho dúvida.

Mas nós somos seres humanos sempre insatisfeitos, e isso é que nos faz estar vivos.

7. De todas as histórias que nos conta, quais as que o incomodam mesmo de verdade?


Cd: Já passei por várias fases.

Em determinadas alturas, chateavam-me aquelas conversas da Santa Luzia Milagrosa, do tão bonito mas ceguinho, do Deus tira uma coisa e dá outra, do coitadinho, os gritos a 20 metros de distância etc.

Agora cada vez menos me chateio com isso. Por vezes divirto-me à brava com estas coisas.

Nesta fase o que mais me chateia são as pessoas a quererem decidir por mim.

Por exemplo: Quando estou na paragem à espera de um autocarro, e as pessoas que pensam que sabem para onde eu vou, quando vêm um a aproximar-se, e eu lhes pergunto para onde vai o autocarro? Elas não têm mais nada! Começam logo a dizer que aquele não dá.

Mas a Senhora por acaso já manda em mim? Você é que decide para onde é que eu vou?

Se eu lhe perguntei para onde ia o autocarro, não foi por não saber para onde quero ir, mas porque não consigo ver a placa com a informação do destino do veículo!

A esse respeito posso contar uma história curiosa.

à uma paragem, onde todos os autocarros passam na estação de comboio.

Como eu queria ir precisamente para lá, estava à espera do autocarro, e uma velhota muito aflita perguntou-me, qual é que eu queria apanhar.

Eu respondi imediatamente. Ó minha senhora, vou no primeiro que aparecer!

8. Se de repente começasse a ver, qual era a primeira coisa que gostava de fazer?


Cd: Talvez a primeira coisa que eu fizesse era pegar numa bola de futebol e ir jogar.

Desde pequeno que adoro jogar futebol, na minha escola sempre jogava com os meus colegas, usando uma bola de guizos, mas não me venham com histórias, não é a mesma coisa.

Também gostava de ser relator desportivo. É daquelas coisas em que a visão faz mesmo falta!

Muitos tipos da minha geração, diriam que se ficassem a ver iam logo apreciar as gajas. Sinceramente era das coisas que menos me preocupava. Gosto muito delas, mas nunca senti a necessidade de lhes ver a cara. Sempre dei muito mais valor ao interior, e aí os olhos não fazem falta nenhuma.

9. Até onde gostava de ir com este blog?


Cd: Não tenho nenhum objectivo definido. Decidi criar este blog da noite para o dia, em conversa com um amigo meu que também achou boa ideia.

Enquanto achar que tenho situações engraçadas, que me permitam continuar a manter um blog com histórias divertidas e bem humoradas, continuarei a escrever.

Não sei que futuro este blog poderá ter. Se houver a possibilidade, poderão ser realizadas parcerias com outros cegos divertidos. Mas é algo que não tem ocupado a minha mente.

Cada vez mais acho que faz falta um pensamento alternativo, que torne o drama da cegueira mais ligeiro, e que através do humor e da boa disposição, seja também um complemento para ultrapassar e eliminar muitas ideias feitas que a sociedade civil tem sobre as pessoas cegas.

10. A propósito, e como pergunta final. O que falta para que a sociedade aceite melhor as pessoas cegas?


CD: Primeiro falta que os cegos se dêem a conhecer nas suas múltiplas facetas.

E isto implica desde logo: estarem inseridos no mercado de trabalho, terem a possibilidade de aceder à sociedade de informação e relacionarem-se com os restantes consumidores dos media, e acederem sem restrições à cultura.

Penso que da parte dos cegos de grosso modo é isto.

É preciso também que a sociedade civil esteja disposta a acolher os bons exemplos que felizmente temos, e que possa separar o trigo do joio para que os cegos sintam que vale a pena fazerem algo de positivo, porque assim serão reconhecidos no meio em que estão inseridos.

Infelizmente, sabemos que um cego, e não só os cegos, mas os deficientes em geral, para conseguirem aquilo que os outros conseguem, precisam muitas vezes de se esforçar o dobro.

Isso não me parece muito democrático! Uma sociedade justa é aquela que consegue ser igualitária nas oportunidades que concede a cada um dos seus cidadãos.

Como reparou, nesta última resposta não faço humor. Porque o meu principal objectivo é fazer com que todos os cegos sejam cidadãos de pleno direito. Tenham a mesma igualdade no acesso ao trabalho. Tenham os apoios necessários do estado para adquirirem o que for fundamental para minorar os efeitos resultantes da deficiência, sejam alvo de políticas mais justas e positivamente discriminatórias, nas áreas onde a cegueira for uma desvantagem insuperável, como por exemplo a mobilidade, em fim, espero que o poder político e a sociedade civil, ouça mais as associações de e para deficientes, para que ser cego possa ser mais divertido, e menos penoso.

1 comentário:

Anónimo disse...

Seria uma conquista à todos e com certeza realizaria em breve, se todos da sociedade tivessem essa mesma expectativa e atitude. Seu blog é legal! sds.