Um cego andava a pedir esmola pela mão de um moço;
a uma porta deram-lhe um naco de pão e um bocado de linguiça.
O moço, pegou no pão e deu-o ao cego para metê-lo na sacola, e ia
comendo a linguiça muito à sorrelfa.
O cego, desconfiado, pelo caminho começa a praguejar com o moço:
Ó grande tratante, cheira-me a linguiça!
Ali deram-me linguiça e tu só me entregaste o pão.
Diz o moço:
Pela minha salvação, que não deram senão pão. Não me deram mais nada!
Mas cheira-me a linguiça, refinado larápio!
E começou a desancar com a bengala no lombo do moço.
Bateu tanto que ele ficou com as costas todas em frida!
O moço porém também era rufia, e disse para os seus botões que o cego
lhas havia de pagar.
Quando iam por uns campos onde estavam uns sobreiros, o moço emdicou o cego para um tronco, e grita-lhe:
Salta, que é rego!
O cego vai para saltar e bate com o focinho no sobreiro. Grita ele:
Ó Seu ganapo. Vou partir-te todo em pedacinhos!
Diz-lhe o rapaz:
Então à pouco cheirou-te o pão a linguiça, e agora não te cheira o
sobreiro à cortiça?
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